não se distinguem
maiúsculas angústias
de minúsculas perdas
Paraty ecoa ausências
do que já foi um dia
chove sobre meus planos
arde e cheira paralisia
ressignificar símbolos
é assim tão certo
mas desencaixar êmbolos
é assim tão abstrato
as seringas cheias de ar
e os manguezais alagados
minha vontade natimorta
espalhado na cama vazia
remói sem pedir licença
dói mais do que deveria
aniversário de sobriedade
se todos perdem
eis um empate
não goze da
minha cara
se hoje brindo
sozinho
com mate
ou faça troça
tanto faz
não que eu não possa
só não quero mais
sei que fim da guerra
não quer dizer paz
mas dou menos valor
à exigência inconstante
da alteridade
e saúdo um ano
de introspecção
mãos limpas
e sobriedade
sub liminar
não venho aqui
insultá-la
venho
tão somente
apagar a memória
da masmorra
eufórica
que tenho
daqueles dias
viscerais
o seu estilo
você acha seu estilo
quando dá mais valor
ao ódio do que ao amor
quando franqueia
a entrada dos
sentimentos
inóspitos
para viver
um dissabor
você acha seu estilo
quando deixa arder
quando tem rituais
densos
quando anarquiza
o status quo
das palavras
quando não liga
se a rima é alva
ou se a alma
é fraca
você perde seu estilo
quando tenta plagiar
bukowski
quando tenta entender
clarice
quando tem
viés de confirmação
quando se importa
você perde seu estilo
quando seus medos
se fantasiam
com suas melhores
pretensões
você reencontra seu estilo
quando tudo que resta
é uma caneta
um estilete
e o desespero
dialética pueril
no que tange a você
nem eu me acredito
são palestras vazias
repletas de pesares
o que tem sido dito
epopeias epifanias
nostálgicos olhares
no que tange a você
nem eu me convenço
são muitas poesias
poeta e seus males
nem sei o que penso
muda todos os dias
os rios já são mares
chá de gengibre
tentei gritar
afônico
acordo suturado
todos os dias
se antes
amava
era dor
mais
prazer
hoje
a almejada
epifania
é fazer
do amor
metástase
noites juvenis
lembrei de quando tocávamos
“boys don’t cry” no parque
naquelas madrugadas sutis
que não precisavam acabar
como acabaram precisando
antecipavam ressacas
e ressacas ainda eram
comedidamente poéticas
a bebida era transporte
e não o destino final
as drogas ainda não
cheiravam usuários
somente música e prazer
mistérios nas penumbras
o desespero ainda não
pintava seus cabelos
com meu sangue
e violões ainda eram
os psicanalistas
da noite
segunda xícara
eu só tenho olhos para você
minha querida
eu só amo a natureza
essa perdida
eu só quero abraçar o gado
essas delícias
eu só ouço Bach
esse provocador
eu só tenho potência de vida
depois da segunda xícara
até lá
por favor
me deixa
agonizar
bem quietinho
pois eu ainda estou
no mundo dos mortos
e a passagem
pelo barqueiro
é sempre
tortuosa
se existir deus
se existir deus
e isso é irrelevante
deve se ser sentir enojado
com tanta mendicância
eu já pedi tanto
por um enfarto
por uma mulher
por uma saída
hoje
o presente
me satisfaz
com suas
imperfeições
e meus ensinamentos
vêm dos meus maiores
fantasmas
se existir deus
e isso é irrelevante
ele sorri amarelo
observando
minha tenra
emancipação
pulp fiction
eu não sei o que aconteceu no meio do caminho
como uma criança adoecida em seus escombros
como um refrão que não tem palmas
como um ponto quântico indeciso
a obsessão maníaca se aproxima
soando como um personagem
assustadoramente violento
de um roteiro mal escrito
por Tarantino