antes que eu me coma
preciso te contar
dos céus que
eu inventei
dos lindos
e soberbos
vórtices
de
vertigem
e glória
nos quais
eu entrei
só para
apagar
teu
nome
da minha
memória
meu livro
das sombras
abarrotado
com teu
garrancho
teu shampoo
e a piada elementar
dessa melancólica
história
a cabeça descritiva
a cabeça descritiva tudo é narrativa se tento meditar o texto se apresenta inspiração fluxo de palavras expiração angústia não há transcendência quando tudo vira bloco de notas mental não é sazonal é tudo refluxo do complexo emocional se tem amor tem dilema deixo a vida vivo o poema
o que não se fala
um pequeno apego
à tristeza e ao passado
ao ressentimento
ao não falado
às inimputáveis
coerções
do amor
XV – o diabo
ele sabe
o que eu não sei
ele seduz
com o que
nem me é
consciente
desejo
ele tem
a cópia original
e autografada
do meu livro
das sombras
ele é
a ejaculação
perversa
do meu
inconsciente
é ineficaz
tentar controlar
sua existência
se é justo ele
que inflama
minha mania
de controle
melhor
que me perder
no esforço
inútil
da dominação
é enfim
assumir
as possibilidades
de negociatas
e barganhas
triste
mas sacra
verdade
meu diabo
sempre foi
eu
XII – o pendurado
após
fazer a forca
com teu nome
tive medo
perdi a
fome
mas meus erros
só são erros
se ainda vivo
com a cabeça
na guilhotina
mesmo quando todos
já foram embora
nosso lugar
está reservado
em um canto
lúgubre
da história
sabedoria
é estar
em uma condição
adversa
e saber esperar
não agir
não piorar
não substituir
se o mundo
está ao contrário
perdido
adversário
meu caminho
se revela
de ponta-cabeça
não tenho
pressa
leve o tempo
que for
para que eu
desça
e
aconteça
I – o mago
ineficazes
os rezos
na marginal
o controle
sempre
é só parcial
pareço
estar
no meu
domínio
minha mente
deduz
as estatísticas
pareço
entender
os domingos
mas as segundas
de sangue
e suásticas
o malabarismo
com as palavras
dissimula
mas não
inocula
a cura
desse
mal-estar
IX – o eremita
com parcimônia
aguardar
a onda perfeita
no mar misterioso
da Ilha dos Lobos
silenciar
o sublime
canto
do presente
retrógrado
calar
com
palavras
sem
gritaria
sem
som
respeite
a versão
incrédula
da minha
partida
não sigo
nenhum caminho
o caminho
agora
é que me
segue
III – a imperatriz
o lado da lua
assombrado
foge de vista
outrora berrava
o bardo
anarquista
o lado que revela
fogo
ocultista
outrora nu
acovardado
fora da pista
o lado que não
pede
conquista
Lilith
em seu trono
adornado
o todo se transmuta
alquimista
V – o hierofante
empatia
com suas derrotas
e suas vitórias
até mesmo
com seu
desinteresse
afasta de mim
esse estresse
pai
eu me importo
mais
com o que
nos une
e mitigo
o que nos
afasta
ser ilha
obsta
ser melhor
com o outro
evoluir
com os desafios
inerentes
à alteridade
hoje
eu aceito seu nome
e sou reflexo
das suas
imperfeições
XX – o julgamento
a austera
paradoxal
impiedosa
realidade
o silêncio
como consequência
da fuga
a inutilidade
de se debater
uma vez
já dentro
do caixão
se a carne
já foi cortada
respire fundo
e sirva
um banquete
com estas
cicatrizes